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terça-feira, 26 de junho de 2012

O SEGUNDO CÉREBRO

É o intestino. Diante das tremendas semelhanças entre esses dois órgãos, os médicos passaram a compreender melhor certas doenças
Ele tem mais de 1 bilhão de neurônios, é responsável por grande parte (95%) da produção de serotonina - substância que na massa cinzenta controla as emoções, a dor e o apetite, por exemplo - e é sensível a ataques de nervos. Tais descobertas têm revolucionado a maneira como a Medicina encara o intestino.

As evidentes semelhanças dele com o sistema nervoso central sugerem que seu papel vai além de absorver os nutrientes dos alimentos e excretar as sobras. Daí surgiu há cerca de cinco anos uma nova especialidade, a neurogastrenterologia, e muitos médicos passaram a considerá-lo um segundo cérebro. "Isso por causa da anatomia, da química e da capacidade de controlar seu próprio funcionamento", enumera o gastrenterologista Eduardo André, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

Na prática muda o tratamento de certas enfermidades, em especial a síndrome do intestino irritável (SII), um descompasso crônico da motilidade e sensibilidade desse órgão que afeta mais de 1,2 bilhão de pessoas no planeta. Também há suspeitas de que a massa cinzenta e seus neurotransmissores (substâncias que agem como mensageiras na conversação entre os neurônios) estariam por trás da prisão de ventre - mal que perturba 40 milhões de brasileiros.

Não há teste capaz de detectar a síndrome do intestino irritável. O diagnóstico é feito por exclusão. Depois de indicar uma batelada de exames - entre eles endoscopia digestiva, colonoscopia e ultra-som abdominal - e não detectar encrenca, o médico anuncia a tal síndrome. Enquanto isso o paciente reclama de dores e inchaço na região e de ciclos de diarréia e constipação sintomas que até pouco tempo atrás eram tratados isoladamente, o que não garantia alívio total.

Com a recente constatação de que o sofrimento é resultado de um tipo de arritmia intestinal, causada pelo desequilíbrio na dose de serotonina, soluções mais efetivas vieram. Segundo Eduardo André, diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, uma quantidade reduzida ou aumentada desse neurotransmissor ou um número menor de receptores da substância no trato intestinal estão relacionados ao mal. Não por acaso, antidepressivos costumam surtir efeito. Mas já há medicamentos específicos que agem nesses receptores como o tegaserode.

As notícias de neurotransmissores por trás da SII têm rendido outras hipóteses que reforçam a estreita ligação cérebro-intestino. O médico ortomolecular e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, Helion Póvoa questiona se um dos gatilhos da depressão estaria na região intestinal, já que a tristeza profunda é resultado da queda de serotonina na massa cinzenta. "Como a maior parte dessa substância é fabricada no intestino, um defeito nesse mecanismo seria capaz de prejudicar a dose destinada ao cérebro", justifica Póvoa, Essa idéia parece ter fundamento, já que a depressão costuma acontecer em pacientes com SII.

Uma nova teoria 

A massa cinzenta pode ter lá sua parcela de culpa até em relação à tão comum prisão de ventre. Para Helion Póvoa, é provável que o trânsito do intestino seja reflexo de com'andos cerebrais, e não apenas uma questão de dieta desregrada. O especialista explica que em um órgão mais preguiçoso predominaria naturalmente ordens de relaxamento muscular enviadas pelo cérebro. Já intestinos ativos receberiam estímulos para evacuar mais vezes. Por enquanto, tudo isso não passa de especulação. O que se sabe com certeza é que a falta de fibras na mesa acaba paralisando, sim, o aparelho digestivo.

Isso porque elas aumentam o volume do bolo fecai, ativando as contrações do órgão. Assim, fezes à toa são varridas rapidinho para fora. As melhores fibras para essa tarefa são as presentes no farelo do arroz e no do trigo - chamadas insolúveis -, pois têm maior consistência. Nesse cardápio, água também não pode faltar - 2 litros por dia, no mínimo. Sem líquido o bolo fecal acaba endurecido.

Problema muito feminino 

De cada dez pessoas com constipação, seis são do sexo feminino. Por que as mulheres? Podem ser os hormônios ou apenas razões culturais - leia-se pura e simples vergonha. Até porque a relação entre prisão de ventre e emoções é bem clara. Vale lembrar que em situações de estresse aumentam as taxas de adrenalina no sangue, o que provoca um bloqueio no trânsito digestivo. A situação se agrava porque a maioria dos apressados ignora o aviso do corpo de que é hora de evacuar, daí o intestino se acostuma à presença das fezes. É constipação na certa. "O órgão sofre com os maus hábitos de seu proprietário", confirma o proctologista Jorge Ortiz, de São Paulo. Diante de um intestino que se recusa a fundonar no mínimo três vezes por semana, não vacile. Prevenir a constipação tem uma razão mais do que nobre: pode afastar o risco de câncer.

Separados ao nascer

Cérebro e intestino vêm do mesmo tecido embrionário - o ectoderma. Isso explica tamanha semelhança

Neurônios: Assim como o cérebro, o intestino tem seu sistema nervoso - o entérico - formado por uma rede de mais de 1 bilhão de neurônios.

Serotonina: Produzida no intestino a partir do triptofano, um aminoácido obtido principalmente do leite e da carne, esse neurotransmissor percorre os neurônios existentes ali, ajudando a regular os movimentos e a sensibilidade intestinais. Em seguida pega carona nas células nervosas da medula espinhal até chegar ao cérebro.

Acetilcolina: Pela mesma trilha da serotonina, esse outro neurotransmissor também circula nos dois órgãos. Há suspeitas de que
esteja envolvido na SII.

Agito desconfortável 

Quando o intestino não pára quieto, há distensão abdominal, dores no ventre e constipação ou diarréia ... é sinal de SII

Falha química: É fato. Uma quantidade alterada de serotonina na massa cinzenta ou no próprio intestino detona a síndrome do intestino irritável (SII). Afinal, essa substância regula a motilidade do órgão.

O papel do estresse:
 Nervos à flor da pele são capazes de mudar a motilidade do intestino e levar à síndrome. Não se sabe ainda detalhes desse mecanismo, mas uma coisa é certa: mulheres ansiosas têm mais chance de desenvolver o mal.

No ponto certo: Os novos medicamentos contra a SII atuam modulando o trabalho dos receptores de serotonina no trato intestinal, estimulando-os em casos de constipação e bloqueando-os quando há diarréia.

Tudo ruim de repente 

Um deles é a intoxicação alimentar, que afeta todos os anos 30% da população. A ingestão de comidas contaminadas, em geral por refrigeração inadequada ou manipulação incorreta, provoca vômito, diarréia, náusea e dores. Deve-se procurar um médico imediatamente.

Dor no lado direito do abdômen, febre baixa e vômito sugerem apendicite - infecção do apêndice, uma bolsinha sem função aparente localizada do lado direito do intestino. A solução é cirúrgica. Já dor no lado esquerdo pode ser sintoma de diverticulite-bolhas benignas surgem na parede do intestino. Repouso e remédios costumam resolver o problema.
 http://www.topgyn.com.br/home/index.php/mobile/editoriais/ciencia-e-saude/medicina/6652.html

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