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terça-feira, 15 de maio de 2012

COMO FUNCIONA O ESQUEMA MUNDIAL DE INFORMAÇÃO


Em dossiê sobre os gigantes da comunicação mundial, escreve MARIA CLEIDEJANE ESPERIDIÃO da Universidade Metodista de São Paulo:
[  ]  ...o fluxo de notícias internacionais destinado às emissoras de televisão é comandado principalmente por três grandes jogadores da arena midiática:
1. A APTN e a Reuters TV, que vendem imagens para seus clientes, sejam eles portais como Terra TV ou emissoras de televisão, como a Rede Globo, a Rede Bandeirantes ou a mexicana Televisa;
2. As emissoras de televisão de alcance mundial, com vasta atuação para além de seus países de origem (Sky News, ABC, NBC, CBS e CNNI);
3. Os consórcios, cooperações e parcerias entre emissoras públicas e privadas com ou sem fins lucrativos, sendo a maior delas representada pela European Broadcasting Union (EBU).

Os três grupos encontram-se interligados simbioticamente, como um ser vivo que precisa ser irrigado: o corte em uma das artérias pode comprometer toda a circulação sistêmica da informação.
Na figura a seguir, mostra-se como a coleta e a distribuição dos informes audiovisuais das agências de notícias se sustentam num tripé relativamente simples, baseado em três fluxos paralelos:
Figura 1: Tripé de irradiação de imagens das agências
No fluxo 1, as agências retransmitem aos seus clientes (emissoras assinantes dos seus serviços) reportagens produzidas por meio de suas próprias unidades de apoio, suas equipes exclusivas de repórteres e cinegrafistas, espalhadas pelo mundo (na APTN, são 89; na Reuters TV, 85). Todo o volume de produção é enviado à Central de Distribuição, a sede das agências, instalada desde os tempos de suas antecessoras em Londres, na Inglaterra.
No fluxo 2, as agências recebem imagens diretamente de grandes parceiros, aqueles clientes com maior abrangência de cobertura em seus países de origem e no mundo. Nessa parceria encontra-se também outra
agência internacional com estrutura jurídica diferenciada, a EBU. No momento de redação deste artigo, a APTN detinha os direitos exclusivos de redistribuição das imagens e entrevistas da rede americana ABC e da britânica Sky News. Na outra ponta do processo, a Reuters se afilia à americana NBC e à britânica ITN. Essas junções sempre balizaram e constituíram o negócio atacadista-varejista desde os tempos da Visnews e UPITN. Ocorre que essas alianças propiciam duas consequências controversas. Primeiro, são esses clientes de primeiro escalão que determinam as prioridades na cobertura, eliminando temas e regiões que não sejam de seus interesses e presumindo, portanto, uma uniformidade de conteúdos nas agências. Segundo, os entrelaces sugerem também distorções monopólicas: na primeira Guerra do Golfo, em 1991, foi o acordo com a extinta Word Television News, a WTN, que possibilitou que a CNN dominasse as transmissões ao vivo por três semanas seguidas.
Finalmente, no fluxo 3, as agências compram ou adquirem sem custos (a depender dos contratos) reportagens exibidas pelas emissoras comerciais ou públicas de menor escala, tendo acesso também aos vídeos realizados por produtoras de vídeo. No termo usado pela APTN e Reuters TV, esses são os uppicks: processo de coleta de material terceirizado, aquilo que já foi editado por outra emissora.
Há, ainda, unidades cedidas por indivíduos e empresas, além de outras disponibilizadas por ONGs de atuação internacional.
As duas figuras a seguir são adaptações a tentativas anteriores de ilustrar o ciclo informacional do fluxo noticioso internacional, elaboradas pelos professores Chris Paterson (1998) e Simon Cottle (2009). 

Como qualquer cadeia produtiva, há níveis hierárquicos flexíveis e paralelos, nos quais integrantes se nutrem uns dos outros para sobreviver, o que desencadeia relações de competitividade, dependência e fortalecimento. Aqui incorpora-se a metáfora de uma “ecologia de notícias” (“news ecology”), genericamente definida por Cottle (2009, p. 176) “como redes complexas de diferentes tipos e formas de fluxos noticiosos na direção local-global, que interagem e se misturam, absorvendo novos veículos e plataformas, e preservando anteriores”. Dan Gillmor (2010) fala da evolução de um ecossistema jornalístico, para marcar as contradições
e surpresas deste novo ambiente. É no âmbito desses dois conceitos que se pode especular que a brasileira Rede Globo e a catariana Al-Jazeera sejam membros flutuantes da cadeia. Ou seja, as duas emissoras podem estar alocadas num patamar mais extremo (ou mesmo secundário) de uma cadeia produtiva, ao mesmo tempo em que podem se deslocar para o topo dela, influenciando e pautando os demais veículos.
[  ]  Conclusão
O detalhamento das práticas operacionais das agências que aqui se conclui permite sustentar que a Reuters TV e APTN irrigam o sistema noticioso audiovisual continuamente. As duas empresas globais sanam os problemas das emissoras mundiais e se comportam, sem constrangimentos, como atravessadoras da notícia: trocam, compram, produzem e fazem intermediações. Em síntese, vendem a ideia de uma garantia de cobertura, embora uma cobertura circunstanciada por múltiplas tensões e controvérsias, notadamente pelas escolhas editoriais ligadas às superpotências mundiais.
Em:  GIGANTES INVISÍVEIS NO TELEJORNALISMO MUNDIAL : agências internacionais de notícias e o ecossistema noticioso global por  MARIA CLEIDEJANE ESPERIDIÃO - Universidade Metodista de São Paulo

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