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terça-feira, 23 de novembro de 2010

TRILHA DE SÃO TOMÉ OU PEABIRU?

Tem um pessoal se reunindo para iniciar o Caminho de São Tomé. Eis o projeto:

Aventura e Fé
Caminhos de São Tomé - Estrada turística
- Capão Bonito - São Miguel Arcanjo - Sete Barras - Registro - Pariquera-Açu - Iguape
Estrada Turística
São aproximadamente 200km atravessando regiões maravilhosas de nosso município, por estradas vicinais de asfalto, de terra, trilhas, pastagens, plantações e bosques. Aproveitando a estrada municipal que liga a sede do Município de Capão Bonito ao Bairro do Taquaral e ao bairro da Abaitinga no município de São Miguel Arcanjo, teremos acesso primeiramente ao Parque Estadual Carlos Botelho, cujas terras se encontram, em grande parte, no território de Capão Bonito. Após passar a sede do parque, os turistas poderão seguir pela Estrada SP-139, da Serra da Macaca, rumo ao litoral, passando por Sete Barras, Registro, Pariqueraçu, chegando a cidade histórica de Iguape e ao Santuário de Bom Jesus de Iguape.
Objetivo
Proporcionar às pessoas:
- momentos de reflexão e fé.  - saúde física e psicológica através do exercício da caminhada.
- integração do homem com a natureza.  - aventura
Proporcionar a região:
- desenvolvimento social e econômico - melhoria na qualidade de vida
- oportunidades de crescimento para população local
História
O Caminho de São Tomé, inspirado Caminho de Fé de Aparecida do Norte(Brasil) e no milenar Caminho de Santiago de Compostela (Espanha), foi criado para dar estrutura às pessoas que fazem a peregrinação a Bom Jesus de Iguape, oferecendo-lhes os necessários pontos de apoio.
Iguape
Em seu caminhar, seguindo sempre as placas de sinalização, o peregrino vai reforçando sua fé observando a natureza privilegiada, superando as dificuldades do Caminho que é a síntese da própria vida. Aprende que o pouco que necessita cabe na mochila e vai despojando-se do supérfluo.
Exercitando a capacidade de ser humilde, compreenderá a simplicidade das pousadas e das refeições. Em cada parada, estará contribuindo para o desenvolvimento econômico e social das pequenas cidades e propiciando a integração cultural de seus habitantes com a dos peregrinos de diferentes origens.
Peabiru, Sumé, São Tomé...
Grandes historiadores falam da existência de uma trilha indígena do período pré-descobrimento que ligava o Sul do Peru ao litoral paulista com o nome de Caminho do Peaberu.
Há fortes indícios de que o Paberu teve um se seus ramais passando por nossa região de Capão Bonito. Estudos revelam que índios não se fixavam por aqui, apenas passavam por aqui em determinadas épocas do ano, na sua andança. Já foram encontrados vários objetos indígenas, como pontas de flechas lapidadas em pedra, demonstrando que eles caçavam muito nas regiões onde hoje estão localizados os parques estaduais Carlos Botelho e Intervales, isto reforça a tese de que a Rota do Peabiru passou por aqui.
O Peabiru era usado pelos índios Guaranis para caçar, ligar as diversas aldeias e, de acordo com alguns estudos, para procurar o que chamavam de “Terra sem Males”, um lugar paradisíaco que imaginavam existir ao leste.
Carlos Botelho
Com a chegada dos europeus, o caminho foi utilizado para se penetrar no território sul-americano.
Muitos historiadores afirmam que o Peaberu (caminho da montanha do sol) passava pelas nascentes do rio Paranapanema e seguiam até o Peru.
Quando o Sudoeste Paulista ainda não havia sido palmilhado pelo homem branco, os naturais da terra já o atravessavam com muita freqüência, pois o território era cortado pelo famoso Peabiru, também conhecido como o Caminho de São Tomé. Peabiru, uma velha rota indígena, era uma via transcontinental que vinha ao litoral paulista - São Vicente. Uma vertente vinha ao Planalto Paulista; este caminho também levava para o Sul, atravessava o Sudoeste Paulista seguindo, mais ou menos, a rota depois seguida pela estrada de ferro Sorocabana. Havia outra, uma ramificação que demandava Cananéia, passava pelas nascentes do Rio Paranapanema em Capão Bonito e a seguir, atingia a região ocupada atualmente por Itapeva, de onde partia uma ramificação que alcançava "Santo Antônio das Minas do Apiaí" e seguia em direção ao Paraná, onde haviam várias ramificações, uma se dirigindo a Assunção, no Paraguai e outra se dirigindo às minas de prata em Potosi e Cuzco então já no território do Peru. Segundo o Dr. Washington Luiz, grande estudioso de nossa história, o Peabiru era a maior via de penetração do território Sul Americano. Foi em 1603 que começou a exploração portuguesa deste caminho entre Guairá e São Vicente. (Rev. de História da USP. vol 39, fls 71). O ilustre historiador paulista, Dr. Gentil de Moura, dá notícias em interessante trabalho sobre o misto de soldado e aventureiro, Ulrich Schmidt, que percorreu o Peabiru, de Assunção, no Paraguai, alcançando São Vicente em companhia de vinte índios Carijós, conhecedores do trajeto. Daí, retornou à Europa. O aventureiro partiu no dia 26 de dezembro de 1552 chegando a São Vicente a 13 de junho de 1553. Esta vereda foi usada por muitos bandeirantes nas suas andanças com destino ao Sul. Mas esta trilha indígena foi fechada por Tomé de Souza em 1653, pelo medo que os espanhóis causavam aos portugueses, temerosos de uma invasão, pois enquanto estes tinham a linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas passando por Laguna, para os espanhóis este corte se dava em Iguape, no litoral paulista. Ainda que os índios não tivessem um traçado fixo para as suas trilhas, elas foram usadas, mais tarde, pelos Bandeirantes. Fechada a velha trilha indígena em 1653, começou ela a ser novamente explorada pela pressão do comércio, a partir de 1693, quando do início d comércio entre o Planalto Paulista e Curitiba, já no ciclo do ouro.
A lenda de São Tomé, o caminho do Peabiru
Para facilitar o entendimento dessa fantástica história recorreremos ao folclore popular de linguagem simples e de fácil assimilação como veremos a seguir:
“ Num dos dias mais frios do mês de junho, Nhô Juca, velho tropeiro, figura muito conhecida na região, por ser uma personagem enigmática e muito amável com todos que o conheciam, estava em seu rancho, às margens do rio Paranapanema, acendendo uma pequena fogueira para se aquecer. Ia assar pinhão, fruto da araucária e também saborear o chimarrão, erva nativa, costume adquirido durante as viagens ao sul.
Nhô Juca tinha muitos compadres, pois sendo uma pessoa muito antiga no lugar, ajudava todos que o procuravam, com seus remédios caseiros, seus conselhos de ancião e seus belos causos. No rústico rancho onde vivia, nos finais de tarde, recebia seus amigos. Sentados em banquinhos, ou pedaços de troncos, ouviam e contavam histórias, principalmente causos de assombração, boitatá, saci-pererê e muitas outras.
Mapa Caminho do Peabiru*
Além da iluminação da fogueira, no centro do rancho usava-se uma lamparina de querosene.
Então nesse final de tarde, como um ritual, seus companheiros, após um dia de lida na roça, vieram conversar com o compadre Juca e também ver se ele não estava precisando de nada, pois era sozinho na vida. Dele não se conhecia a existência nem de mulher, nem de filhos.
A conversa estava tão animada que nem perceberam a tempestade que se aproximava.
O vento era tão forte que atravessava de um lado para outro do rancho, ficando impossível manter a lamparina acesa. Os visitantes estavam assustados, porém Nhô Juca, em sua calma, começou a lhes contar uma nova história. Disse que aquela região já havia pertencido aos índios e que estes
haviam construído um caminho muito importante: o caminho do Peabiru. Era uma trilha muito antiga e comprida, começava no Oceano Atlântico e terminava no Oceano Pacífico, atravessando a América do Sul. Tinha mais ou menos 3 mil quilômetros de comprimento e cerca de 1,4 metro de largura, mais parecendo uma grande valeta no meio da floresta.
– E este caminho ainda existe? Perguntou Pedro, maravilhado.
– Pois bem, os índios, nossos antepassados, tinham a sua sabedoria, não eram bobos não. Eles plantavam nesse caminho uma grama miúda que evitava que a chuva lavasse a terra e, ao mesmo tempo, impedia que as ervas daninhas invadissem a valeta. Assim, o caminho ficaria sempre limpinho, mais parecendo um corredor acarpetado de verde, bem fofinho.
– Ah! Que espertos, hein, compadre? Disse Pedro, admirado.
– Pois bem, como eu lhes falei, os índios não eram burros não, essa grama era plantada em alguns trechos e ia se reproduzindo e avançando o caminho. E também soltava umas sementinhas gelatinosas que grudavam nos pés e pernas dos que por ali passavam e a levavam pelo caminho; dessa forma, as sementes iam caindo e novos trechos iam sendo formados.
E a conversa continuou, falaram dos índios, seus costumes e até da sua saída da região. Nhô Juca, então, resolveu contar-lhes sobre a lenda que envolve este caminho milenar.
– Sabem, compadres, dizem que por este caminho andava muita gente importante da nossa história. Ouvi, certa vez, um moço lá da capital, que tava cavoucando uns buracos na beira do rio, procurando sei lá o que, dizer que por aqui passou um homem branco, pois só existiam os índios e este homem fez muita coisa boa para eles. Dizem que ele veio das águas e que seu nome era Tomé ou Pai Zumé, como os índios o chamavam. Era um homem branco, alto, com longas barbas. Usava cabelos curtos com uma tonsura no alto da cabeça, igual às que os padres tinham. A roupa branca ia até os pés, amarrada por um fino cinturão de couro.
Nas mãos trazia um livro semelhante ao Breviário dos sacerdotes e também uma cruz.
– Por todos os lugares onde passava, deixava seus ensinamentos, condenando a poligamia e a antropofagia. Ele evangelizava os índios falando sobre o único Deus. Também ensinou aos índios o cultivo de outras culturas como a cana-de-açúcar e o milho. Por pregar a palavra do bem e censurar a imoralidade, causou grande revolta nos chefes e pajés que, furiosos, mandaram persegui-lo, incendiando as cabanas onde se abrigava para descansar, disparando flechas e pedras no profeta. Ileso dos atentados sofridos, sempre fugia pelas águas dos rios ou do mar.
– Muitos dos antigos dizem que o homem branco era Tomé, apóstolo de Jesus Cristo, o mesmo que duvidou da ressurreição, pois pediu para colocar seus dedos nas chagas de Cristo para ver o sinal dos cravos em suas mãos. Como foi descrente, Jesus lhe deu a missão de pregar o evangelho nas terras mais longínquas do mundo. Naquela época, o mundo era apenas o Oriente, a Europa, África e a Ásia. Dizem que Tomé foi primeiro para a Pérsia. Assim que concluiu suas pregações, entrou num barco de mercadores rumo às Índias. Alcançou a Índia chegando até a China. Depois avançou no mar, indo parar em ilhas não determinadas. Como chegou ao Brasil, não se sabe, apenas alguns padres jesuítas relatam sua passagem por estas terras. Seu percurso começava no oceano Atlântico e terminava no Pacífico.
– Nossa, compadre, esse caboclo viajou muito, hein! Exclamou Pedro.
– Pois é, era a sua missão e nada o impedia. Porém, certo dia os inimigos conseguiram pegá-lo e o amarraram numa grande pedra. Furiosos, surraram-no e o largaram desmaiado. Então, três grandes águias desceram do céu, cortaram as amarras e o libertaram. Ele fugiu pelas águas da mesma maneira que havia chegado e nunca mais ninguém soube do seu paradeiro.
– E esse caminho do Peabiru ainda existe, compadre? Pergunta Pedro.
– Olha, eu escutei uns moços, lá no boteco do seu João-Pé-Grande, falando desse caminho, dizem que ainda existem alguns lugares dele. Mas ainda tem mais. O Apóstolo Tomé ou Pai Zumé, dizia que era para preservarem o caminho do Peabiru, e se um dia ele fosse destruído pelos gigantes de ferro e aço, haveria muita seca, as aves e animais iriam acabar e as águas dos rios se tornariam escuras. Nhô Juca enche a cuia com a água fervente da chaleira preta de ferro e repassa para Pedro. Todos ficam em silêncio. Apenas a fumaça dos palheiros sobe no ar.
– É preciso ver para crer.”

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